2012/04/29

Ao findar de Abril: "Poesia onde estás?"



Autocrítica do poeta (*)

É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
ou chamar à lua a caveira voada da flâmula dum navio pirata!

Mas a outra poesia - onde está?

A poesia que transforma de repente a música em lâmina
para romper a noite até à solidão dos archotes
que escurecem mais e mais
este abismo absurdo
sem astros de céu vivo
onde as pedras apodrecem
e as andorinhas verdes não saem dos olhos das mulheres?

Mas a outra poesia - onde está?

Esta esperança convicta
de teimar na certeza do nada
com explicações de papoilas
e esqueletos a abraçarem-se
no amor final já sem sentido de bandeiras?

Sim. Onde está?

Que palavras abre
para além da luz secreta
que os dedos dos mortos acendem no perfume das flores?

Sim. Onde estás?

- Poesia de rasgar pedras.
Poesia da solidão vencida.
Poesia das pombas assassinadas.
Poesia dos homens sem morte.

José Gomes Ferreira
Poesias III
Ed. Círculo de Leitores - 1971

(*) No original:
(Crítica à poesia das imagens aos cachos.
Como de costume, autocrítica.)
@as-nunes 

2012/04/27

Os meus olhares da minha rua


Saí de casa, saco do lixo na mão, máquina fotográfica à bandoleira, recolhi estes apontamentos fotográficos, já de regresso a casa, num dia destes, de finais de Abril de 2012. 
Esta zona dos Lourais é uma espécie de fronteira entre duas freguesias: as flores (tremoço (*), as amarelas) da linha superior medram em terreno do lado das Cortes; as giestas e os dois aspetos da rua pertencem à minha freguesia, da Barreira.

A minha rua, neste dia, vi-a assim...
-
E...já que estamos em Abril... águas mil... versos mil:


A minha rua 
é a dos Lourais
que bem se vê dela a Lua
e vastas quintas senhoriais

E muitas aves
muitas flores
sons nas claves
vários odores

Deste lado é a Barreira
lá mais abaixo as Cortes
da minha varanda altaneira
posso sentir emoções fortes

Com força a água escorre
em dias de temporal
o Rio Lis ela socorre
e leva ao Litoral.


as-nunes

(*) Tremocilha-amarela Lupinus luteus L. (Fabacea) (ver aqui, por exemplo)
ou tremoceiro-amarelo (Lupinus luteus) (como se pode ver no http://dias-com-arvores.blogspot.pt/ )
Obrigado, Luís Coelho pela dica; se aqui voltares podes fazer o favor de deixar a identificação da flor roxa?REMRELA (LUPINUS LUTEUS)
@as-nunes 

2012/04/25

Já não há cravos vermelhos?


Esperanças loucas...

Ideias vividas
frente a oportunistas,
Lutas sofridas,
traidores e egoístas. 

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
se a esperança não morrer.

Sigamos o sete-estrelo,
façamo-nos ao mar.
Não aos velhos do Restelo,
acomodados, a sofismar.

Financeiros sem ideais!
Mais parecendo
chacais!

Portugal não pode viver
remetido a oeste
sempre a temer,
como se fosse este,
- irremediavelmente -
o nosso Fado!...

Cravos encarnados,
onde estão?!
Espezinhados, 
pelo chão!...

NÃO!...
Os ideais de Abril
não podem acabar assim, 
Não podem, NÃO!...

também pode seguir o link dum meu comentário no blogue do Agostinho (aqui)
@as-nunes

2012/04/23

Todos os dias são dias mundiais do Livro!...

O Largo 5 de Outubro de 1910, em Leiria, hoje.
Livros e mais livros, uma pequena amostra dos livros cá de casa, juntos ao longo de várias décadas...

Neste dia, oficialmente consagrado ao Livro, chegou-me, pelo correio, uma embalagem com um livro que eu comprei num alfarrabista, por sinal até se chama Nunes, o Luís Nunes, já lhe comprei vários, via internet, normalmente de poesia ou da autoria de escritores de quem já é muito difícil obter edições comerciais de livraria.
Há dias celebrou-se o 170º aniversário da morte de Antero, daí a razão de eu me decidir a procurar algo mais sobre Antero de Quental. Estou à espera de mais dois, um só com sonetos. São livros relativamente baratos, tudo é relativo, mas andam - colocados em casa, via CTT - entre os 5€ e os 7 e tal euros, às vezes um pouquito mais, quando me entusiasmo por alguma edição em particular e consigo que o acréscimo de despesa tenha cabimento de verba no meu orçamento.

Este livro, cuja capa está reproduzida na composição acima, é uma edição da Secretaria Regional de Educação e Cultura (Açores), Angra do Heroísmo, 1987. Por coincidência, o tema da capa é uma colagem com pintura de Álamo Oliveira, um grande escritor Terceirense, que ainda há três ou quatro meses esteve no Encontro de Poetas do Grupo de Alcanena, de que muito me honra fazer parte 
(como aprendiz, eu sei, mas que me têm proporcionado ótimos motivos de inspiração para uma tardia renovação do meu amor pela Poesia). 

A pp 196 do citado livro, pode ler-se este fragmento do Discurso de 7 de Março da Liga Patriótica do Norte:
(...)
" A vida actual, para ser autónoma e independente, tem de ser remodelada. A nação tem de emendar erros profundos e numerosos, acumulados durante muitos anos de imprevidência, de egoísmo, de maus governos e de corrompidos costumes públicos. Esta situação é tanto mais grave, quanto gradualmente se foi estabelecendo entre a nação e os governantes um verdadeiro divórcio, divórcio há muito latente e que a crise actual veio apenas patentear em toda a sua cruel realidade. Os governos, em Portugal, deixaram há muito de representar genuinamente os interesses e o sentir da nação. "
(...)
Estávamos na segunda metade do século XIX.

Parece impossível que hoje, 150 anos depois, ainda se possa considerar este discurso atual!...

@as-nunes

2012/04/22

Naquele tempo PPC dizia...



descobri esta obra-prima no conversa avinagrada
  • Não matemos o doente com a cura...
  • Não basta a austeridade e cortar...
  • Nós precisamos de valorizar cada vez mais a palavra...
  • O IVA não é para subir...
  • Eu não quero ser Primeiro-ministro para dar empregos ao PSD...
  • bla bla bla...bla bla bla...
-
Pacheco Pereira que me perdõe esta replicação, mas nem todos vamos ao "abrupto":
-
"temporário", 
"restituição intensa", 
"ajustamento estrutural excepcional"

Todos os dias novas palavras e expressões revelam como Orwell foi um verdadeiro precursor em perceber como o poder usa as palavras para mandar. Entre as novas aquisições da “novilíngua” encontra-se o “temporário” que passou a significar definitivo e o “ajustamento estrutural excepcional”, signé Vitor Gaspar, uma contradição nos seus termos porque se é “estrutural” não pode ser “excepcional”. Outra é a “restituição intensa” dos subsídios de Natal e férias, expressão utilizada pelo Primeiro-ministro. “Intensa” é o quê? Metade, três quartos, nada? Presume-se que signifique que em vez de ser “gradual”, passe a ser pouco “intensa”. Iluda-se quem pense que isto são jogos florais. Bem pelo contrário, são jogos do poder, destinados a não dizer nada, dizendo, ou a dizer tudo, não dizendo.
-
Cá está, há que valorizar a palavra!...
@as-nunes

2012/04/21

Abril traído



Abril sofisticado traído

Que mundo de Abril é este
Ilude-nos com desilusões
Abril tanta esperança trouxeste
Chagas agora nossos corações

Dias de chuva nos olhares
Silêncios interrogações
Terríveis estes esgares
Difusas confusas  emoções

Ao longe mais um milhafre
Impante nas suas  visões
Insuportável odor a enxofre
Sabor amargo a traições

Vergados sob tropelias mil
Leis e Decretos de maldições
Não deixemos que Abril
Se resuma a meros chavões

Leiria, 21 de Abril de 2012
António S Nunes

nota
no original usei a palavra "sofisticado" mas parece-me bem que não segui os conselhos dum dos meus mestres, Miguel Torga. Ele bem deixou escrito que a palavra tem que ser usada com a máxima preocupação e precaução também. Daí eu ter riscado uma e substituí-la por outra, mais direta ao assunto, para quê tantos sofismas e rodeios, não é, Rogério? 
@as-nunes

2012/04/20

Pilriteiro em flor...mais uma alvorada da Natureza


É só para vos lembrar 
que eu existo
todos os anos
por esta altura
cá estou
algures por aí
na borda de um caminho
a branquear o tempo
a pavonear estes brincos
alvos brilhantes 
alvoradas da Primavera
desta vez encontraram-me 
na estrada     junto
à casa episcopal
em Leiria, ao seminário.

Sou o pilriteiro!
Não se lembram?!...

@as-nunes

2012/04/18

Quinta do Cónego - Cortes (sequência 2)

Vista panorâmica sobre a Quinta do Cónego, do lado de lá do rio Lis, olhando para nascente; foto de Fevereiro de 2012.
O tema da sequência de registos que me comprometi a mostrar neste blogue foi apresentado neste post (aqui)
http://dispersamente.blogspot.pt/2012/02/quinta-do-conego-vista-panoramica-1.html
A seguir:
A mesma vista panorâmica em 16 de Abril de 2012; já se notam os efeitos da primavera, principalmente nos choupos e num lódão (creio eu ser um lódão, ao lado direito dos choupos, a esta distância, mas prometo que vou confirmar, um dia destes); também me parece observar um salgueiro, ao lado do lódão.


Terei que aqui voltar para tirarmos estas dúvidas a limpo.
São 20 horas, o tempo está miudinhamente chuvoso, mas ainda vou tentar uma fotografia. Se ficar boa venho-a aqui colocar. Quando não, paciência, ficará para a próxima.
...
Ei-la, in extremis:
Se se ampliar esta fotografia, fica-se na dúvida:      da esquerda para a direita:  ... ......                                  1 - choupos 
2 - choupo ou lódão 
3 - salgueiro ...   ........ ....--                                             ter em conta que estas fotos estão a ser tiradas com teleobjetiva a cerca de 500 m de distância                     

elementos técnicos da fotografia:
f (distância focal): 4.5 (231 mm)
abertura: 4.34
exposição: 1/8 
ISO: 400
@as-nunes

2012/04/17

Euro Estádio de Leiria: uma gestão imprópria e um desperdício

Castelo de Leiria, lado poente.
Aqui em baixo, mesmo ao lado do fotógrafo, um outro monumento, mas este, à falta de visão de quem tinha a obrigação de fazer contas dos dinheiros públicos!...O Estádio Dr. Magalhães Pessoa, o do EURO 2004.
Pois...mesmo juntinho ao Estádio da bancarrota municipal de Leiria...
As bancadas VIP, cadeiras estofadas a rigor, também ao rigor do tempo, a degradarem-se, algumas já estão a ficar rotas, cheias de teias de aranha, pó... Tudo muito naturalmente!
Um Estádio a pensar no Futuro ou só no(s) Euro(s)?

Os iniciados, Seleção Distrital de Leiria, a começarem um treino. O mais caricato, no meio de toda esta trapalhada, é que o relvado está que nem um brinco, tratado a rigor!
Estive ontem no Estádio Dr. Magalhães Pessoa (o do Euro 2004). Uma fortuna colossal que aquele estádio custou. A Câmara Municipal de Leiria, ou seja, os munícipes leirienses, ficaram com uma dívida incomportável, às costas. Para várias gerações. Nem sei mesmo se a conseguiremos pagar.

Para a gestão da sua manutenção e das atividades com ele relacionadas, foi criada uma EM, Empresa Municipal (Leirisport), que foi um maná para uma quantidade infinda de administradores (normalmente amigos das gentes do poder político local e nacional, claro está) que, à partida, sabiam que não tinham possibilidades de alterar o rumo irreprimível para o abismo financeiro daquele empreendimento público.
Os anos passam e a dívida aumenta. 
A UDL - União Desportiva de Leiria (SAD), que ficou com o privilégio de utilizar aquelas instalações a preço zero (bem se pode dizer assim, que toda a gente sabia, de antemão, que jamais a factura que a Leirisport lhe passava, seria paga).

Entretanto, o futebol profissional da UDL entrou num declínio profundo. O Presidente da SAD, João Bartolomeu, demitiu-se, os jogadores profissionais fazem greve aos treinos. O que vai ser da equipa de futebol representativa de Leiria? Uma incógnita. 
(aliás, até convém ressalvar que a UDL-futebol profissional, nem sequer já treina e joga em Leiria, vai para 2 anos!...mudou-se para a Marinha Grande, como bem se sabe!).


Lamentavelmente, os problemas relacionados com a utilização e destino a dar a este fantástico estádio, tão fantástico como megalómano, disso todos nós temos a culpa, embandeirámos em arco com a festa do Euro 2004, avolumam-se assustadoramente.
E aqui estamos com um problema de todo o tamanho para resolver. 
Só que as soluções tardam... e não se vislumbra qualquer luz ao fundo do túnel. 

Ontem houve treino dos iniciados para a Seleção Distrital. Lá estavam miúdos do UDL, Marrazes, Caldas, Alcobacense, Nazaré, não sei de que mais equipas. 
O meu neto lá anda, como os seus colegas, todos expectantes. Veja-se só, a treinarem num dos melhores estádios portugueses e até da Europa! Nem sei como, até porque os treinos têm de ser a horas em que já é necessária iluminação artificial. Repare-se nos holofotes que foram ligados. Constituem uma pequena amostra da intensidade de luz que pode ser usada naquele fantasmagórico estádio.

Não defraudem as esperanças dos miúdos, rapaziada de 1989!
Será que não se conseguem encontrar soluções para tão candente problema, não só financeiro, como desportivo?

Será que se vai concluir pelo irremediável, que será, como já se aventou a hipótese, fazer implodir toda aquela infraestrutura, a fim de impedir que a dívida aumente, cada dia que passa?!...

@as-nunes

2012/04/14

Zona histórica de Leiria

Barreira, Junta de freguesia que vai deixar de ser Junta

 Na sequência da reforma administrativa em curso, a Barreira vai deixar de ter Junta de freguesia...bandeira a meia haste!
Lá se vai a minha freguesia com administração própria! E eu que já fiz parte da sua Junta!
Um dia de semana, sem direito a bandeiras hasteadas, solar do Visconde com um jardim frondoso e muito antigo, mas escondido dos olhares das pessoas passantes...
 Descendo pela Estrada de S. Pedro, quem vem da Barreira, em direção às Cortes. Paisagens panorâmicas de pasmar. Em contraste, uma poda radical de uma oliveira.
Do alto dos Capuchos, em Leiria. Ao longe, nos Campos do Lis, junto a Moinhos da Barosa, a paisagem é o mais bucólica possível, ainda que a ser assaltada pela urbanização incessante de todos estes terrenos de cultivo, por excelência.
Já tenho lido que poderá vir a constituir-se um Agrupamento de Freguesias com esta designação de Campos do Lis.
@as-nunes

2012/04/12

Acácio de Paiva: Um pedido ...à Lua

.
UM PEDIDO...À LUA

As damas sempre são muito invejosas!
Como o Sol se ocultou um dia destes,
por causas, com certeza, poderosas,
sabidas só nas regiões celestes,
.......resolveu Dona Lua
no domingo fazer a mesma graça,
escondendo algum tempo a face nua
.......por trás duma caraça.
Podia fazer isso de surpresa,
.......mas como é muito linguareira
não sei a quem o disse, de maneira
......que em toda a redondeza
já toda a gente sabe da partida
e eu mesmo, que não sou de inquirições,
......conheço as intenções
......da dita delambida.
Bem. Visto que há trinta anos (mais talvez)
lhe tenho celebrado em versos fartos
......a doce palidez
e seu rosto de prata e até os quartos,
vou pedir-lhe a fineza assinalada
de ela mudar aquela estranha cena
para outra noite mais apropriada:
Como terça que vem falo à pequena,
......à minha namorada,
das onze às onze e meia, era excelente,
reservar para então a mascarada,
......porque provavelmente
temos ambos à porta do pomar
algumas expressões de amor contido
e muito me convinha que o luar
......não fosse intrometido.
Se tem havido eclipse quarta-feira
......àquela mesma hora, 
......não trazia eu agora
uma nódoa muitíssimo trigueira
nas alturas da sétima costela
......feita pela ponteira
da nodosa bengala do pai dela!


Acácio de Paiva

1863 - 1944
- Insigne Poeta Leiriense (Altíssimo Lírico e o maior Humorista da Poesia Portuguesa)
- também colunista e crítico literário dos melhores jornais e Revistas
da sua época 
(DN, Século, Ilustração Portuguesa, outra imprensa espalhada
pelo país)
- Diretor de "O Século Cómico"
- Autor e tradutor de múltiplas peças de Teatro
- Autor do "Fado Liró" em parceria com Nicolito Milano (mais tarde cantado e gravado em disco por Fernanda Maria)
@as-nunes

Um quarto minguante da lua em Abril de 2012


Se bem se atentar
nos ruídos de fundo
esta Lua estava mesmo linguareira
e toda a redondeza
lhe respondia
como podia
como sabia
até uma melga
ao 39º segundo
ouçam bem...


@as-nunes


2012/04/10

A Lua às fatias


Bom dia, rapaziada!
As aulas recomeçaram hoje?
Para mim, pelos vistos, também.
Estou a aprender a inserir um vídeo processado pela nova plataforma da Google mas as coisas não me saíram bem, à primeira tentativa.

Vou estudar um pouco mais a ver se percebo o que se está a passar de errado.
...
 algum tempo depois...
Retomei o esquema habitual, colocar o vídeo (diapositivos em filme) no YouTube. Deu resultado. Sabem que o YouTube também pertence ao grupo da Google, claro que sabem, aliás voçês já sabem mais do que o "mestre da música", quer dizer, às vezes voçês convencem-se disso mas ainda têm muito que aprender, tenham lá santa paciência...
No tempo em que eu tinha a vossa idade brincávamos com os piões, bolas de trapos para jogar futebol (mais tarde, já na juventude, lá apareciam umas bolitas de cautchu (acho que é assim que se escreve) e então era uma festa...

Boas aulas...

Portem-se bem, colaborem com os vossos professores, peço-vos, para vosso bem, por um Futuro melhor, que voçês merecem e que nós (os vossos pais e avós e professores) desejamos do coração...
@as-nunes

2012/04/09

Os sonhos insones duma noite destas...


Há dias, a Lua Cheia 
a pairar na noite
a olhar-me insone
neste lado do monte

Sérgio Godinho a cantar
a vida sobresselente
permitindo-nos pensar
desta feição mais dolente

Que seria de nós
se não fossem os sonhos
a não nos deixarem sós
e assim tão tristonhos?

@as-nunes

2012/04/08

Cristo Ressuscitou...


A sua voz estridente
Todas as notas
conseguia alcançar
No fundo do povo
a minha mãe contente
Era ouvi-la a cantar...

Já o nosso redentor 
Ressuscitou, ressuscitou
Ressuscitou
Como disse Aleluia
...
Estas imagens reportam-se aos anos 50, a aldeia cheia de movimento, de vida, o chão à soleira das portas atapetado com as plantas e flores da época, as famílias a juntarem-se, algumas dezenas de membros, a minha avó Neves
(olá Nevitas; é a minha prima que está no Brasil e gosta de andar pelo Facebook, beijinhos a toda a tua prole Brasileira) 
as minhas tias Céu, Judite, ... os meus tios por parte do meu pai, o meu padrinho Serafim 
(onde estás, padrinho? não acredito que estejas naquele sítio aquartelado a que chamam cemitério, apesar de lá ter sido depositado o teu corpo, ainda não há muito tempo)
- toma lá 20 escudos, é o teu folar
o Casal da minha meninice, ainda envolto na áurea mítica da minha terra, das minhas raízes, dos carros de bois a chiar, 
- anda lá, Ramalha, raios de partam, Castanha
, o meu tio Ramalho a arengar, dos caminhos cheios de regos e pedras com os sulcos feitos pelo tempo e água das chuvadas e pelas rodas protegidas com anilhas de ferro forjado, entre os campos, delimitados por muros baixos de pedra da serra.

A minha mãe, Encarnação, toda devota dos santos e Santíssimos Deus Pai, Deus Filho e Espírito Santo, um sonho irrealizado, que era eu vir a ser padre, que conseguiu a proeza de criar 5 filhos (amigos como deve ser),  4 afastados uns dos outros, no tempo, 2 anos, hoje a escada será mais ou menos assim, eu com 65, a Lourdes com 63, a Sildina com 61, o Victor com 59 (vai fazer 59 no mês...) e, já fora de controlo, a Isabelita, 18 anos mais nova que eu, prof. dra. na Universidade de Coimbra, uma sumidade, não se deixem convencer com o seu ar e modos de menina tímida, ela própria já com duas filhas médicas, notas a rebentar a escala...
...
Depois conto isto tudo e muito mais quando escrever as minhas memórias, é que assim, num repente, fica muita coisa de fora, muita gente, muitos acontecimentos, muita saudade!...
...
(antes de revisto; escrito com o coração e a emoção do momento)
@as-nunes

2012/04/06

Aluados mas atentos...



Hoje,ao final da tarde, da varanda sobre as Cortes e Sra. do Monte.


Sensação de infinito, de grande paz interior, de que não podemos, de forma alguma, sobrelevar o nosso ego ao coletivo, afinal fazemos todos parte desta grande irmandade, que é o Infinito...


Mais palavras para quê?
Recriminações?
Reclamações?
...
Quem nos ouve e acode?   QUEM?!...
Estaremos a caminho da solidão, de não termos em quem confiar?


Infelizmente pressentimentos e apreensões não nos largam a mente:
Não sei porquê, mas cheira-me que o Governo ao impedir as reformas antecipadas até a 2014 , inclusive , no fundo não são dois anos , mas quase três ( estamos ainda em Abril de 2012), vai deste modo aumentar nesse ano ( 2014), a idade de reforma para 67 ou 68 anos . É um pressentimento, um sentimento vago, talvez um instinto daquilo que vai acontecer. Não há dinheiro , como pode por mágica haver de repente dinheiro para o 13º e 14º mês e para reformas . Poupem a minha inteligência , não confio nesta malta...
in Clube dos Pensadores aqui
Subscrevo integralmente,
@as-nunes 
Obrigado, SD, um abraço.

Divagações; em vésperas de mais uma Páscoa

 Terra lavrada à espera de chuva, um choupal, malmequeres e a estrada dos campos do lis, na zona de Moinhos da Barosa - Leiria.
 Só porque ali estava um freixo a sobrepôr-se ao resto da paisagem . campos do lis.
Campos do Lis, na borda da estrada Leiria- Amor, a EN 349-1

Comemorar a Páscoa?
Continuar a comemorar?!
Comemorar o quê?
A morte de Jesus?!
Jesus foi um homem
Morreu há dois mil anos
Quantos homens nasceram
e morreram
entretanto?!...

Quem os salvou?
Que foi da vida desses homens?
Quem somos nós?
Quem (o quê?) determina
o Futuro?

O que é o Futuro?!...

Entretanto...
Observe-se a esplendorosa
maravilha que é a Natureza!
Quem a criou?
Que energia há no Cosmos?

O princípio e o fim
das coisas
visíveis
e invisíveis

Circuito fechado...
Quem coordena 
os seus ciclos?
A Santíssima Trindade?

Como o Homem é pequenino, minúsculo, ínfimo, medroso, não quer morrer sabendo que vai morrer, inexoravelmente, o seu corpo vai transformar-se em pó...em nada!...

Faz hoje 1979 anos que Jesus Cristo morreu crucificado numa cruz!...
E depois?!...

Os homens continuam 
a crucificar-se uns aos outros
incessantemente
implacavelmente
os mais fortes
a devorarem os mais fracos.

Porquê?!
Porque terá de ser assim?
Para todo o sempre?!
Porquê?!...

PAULO VI em Leiria: onde estão as letras que identificavam esta estátua?


Não seria de se fazer um esforço suplementar para se recolocarem as letras que identificam esta estátua em Leiria?


Esta fotografia está referenciada neste link (aqui). Já em 2009 foi feito este reparo no blogue dentro de ti ó leiria.

É que se se reparar bem, na atualidade, a estátua está despojada daquele elemento informativo, que, para além do mais, faz parte integrante deste documento histórico da cidade.
@as-nunes 

2012/04/05

A bordo do pensamento...



Lá ao fundo
em baixo?
em cima? 
A Lua em quarto crescente
quase lua cheia


O pensamento
está na lua?
Está a bordo?
A bordo da Terra?
Entre nuvens?
Ao sabor do vento?
Nas ondas hertzianas?
Dimensão informe?


Teve princípio?
Tem fim?
Alcançará o infinito?


Que dimensão contém?
Que recetores o captarão?
Terá eco?
...
Alô Terra!
Que é do Norte?


Mayday! Mayday!...
@as-nunes 

2012/04/03

As árvores, os pássaros, a primavera...e o outono?!



Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores 
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se.
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração



Ruy Belo

Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração pp 81 "Na Margem da Alegria" poemas escolhidos por Manuel Gusmão ed. Assírio & Alvim - 2011