Este meu olhar embasbacado...na direção das Cortes e Serra da Maúnça, logo a seguir à Sra. do Monte...
Assim:
DECLARAÇÃO
Eu, abaixo
assinado, não sei o que
hei-de
declarar.
Mas posso
declarar que foi ontem que eu,
abaixo-assinado,
declarei que era hoje que
iria declarar
o que tinha de declarar.
E declaro
hoje que não sei o que declarar no dia
de hoje
enquanto amanhã não chega.
Eu
abaixo-assinado declaro que
amanhã terei
de declarar tudo o que tenho
de declarar.
Ontem teria
declarado e subscrito
o que tinha
de declarar.
E amanhã
também iria declarar
todas as
declarações do mundo se, quando
amanhã chegar,
não descobrisse que amanhã
é hoje.
Por isso é
que eu, abaixo-assinado,
declaro que
não sei declarar hoje, que é o amanhã
de ontem,
tudo o que tenho de declarar.
E eu,
abaixo-assinado, declaro solenemente
por minha
honra que só não declaro nada hoje porque
hoje é o
amanhã de ontem,
e também não
vou declarar nada amanhã porque
amanhã é o
hoje em que irei deixar para depois
de amanhã o
que tenho de declarar.
E cumpra-se
esta declaração que vou datar
de amanhã,
sabendo que só a poderei escrever
depois de
amanhã, quando ontem for o amanhã
em que a vou
adiar para ontem.
Nuno Júdice
Pp 50 “A
matéria do poema”, Ed. Dom quixote - 2008
-
Ou seja, estou a repetir-me, parece-me a mim, talvez seja altura de pensar melhor naquilo em que se está a transformar este meu "DISPERSAMENTE...", se calhar só isso, um amontoado de apontamentos dispersos mas também dispersivos, em demasia!...
Para já é esta declaração que aqui me apetece deixar hoje, logo a seguir à DECLARAÇÃO de Nuno Júdice, de forma a que me possa servir de muleta, tentando o balanceamento do passado e presente com o futuro.