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2012/05/17

Rosas de Egito Gonçalves


 

Mais uma voltinha pelo meu jardim/quintal...as couves, os tomateiros, as alfaces, as cebolas, etc estão em plena forma, também...

Pode uma rosa
sofrer de insuficiência cardíaca?
Podem substituir-lhe
as coronárias por uma safena?
que não contava com essa?
Podem as dificuldades ser maiores,
ou menores, conforme
a rosa seja branca ou vermelha?
A rosa do povo
que rompe do asfalto
perde o fôlego ao subrir as escadas?
A rosa murcha mais depressa
que o homem, é certo. Os meus espinhos,
voltados para dentro, ferem-me
a mim mesmo. Toda uma lista
de diferenças se pode fabricar
para mostrar o absurdo
da rosa cardíaca.
Não preciso reflectir muito
para saber
que não sou uma rosa. E a rosa
poderá ter água nos pulmões?
Há hospitais para rosas?

Egito Gonçalves

A pensar no próximo encontro de Poetas na Biblioteca Municipal de Alcanena, no próximo dia 26 deste mês, e no meio dum roseiral  cheio de espinhos de preocupações várias, nomeadamente prazos para cumprir com o Fisco... 
ai a Grécia e os efeitos colaterias para toda a Europa se tiverem de sair da zona €uro! Mas então já não há Economistas e prémios Nobel?!...
e na sessão do dia 31 no Mercado de Santana...para evocarmos Acácio de Paiva, por iniciativa da Câmara Municipal de Leiria!
...
@as-nunes 
Posted by Picasa

2012/03/17

Egito Gonçalves, lá fora a vida vai continuar...

uma oliveira mais que centenária 
(quiçá 500 ou mais anos de vida) 
a primavera aí vem ela
terra lavrada mas ressequida
mal-me-queres de cor amarela
belas e alvas flores de ameixoeira
as-nunes
-
Entre mim e a minha morte
Há ainda um copo de crepúsculo.
Talvez pequenas coisas
Ainda respirem, não as distingo,
Há uma névoa que me mantém na sombra.
Sei que lá fora as árvores
Dançam ao vento, o que perdem
No outono ganham na primavera.
Nós vamos deixando pelo caminho
Os farrapos da pele
.(incompleto)

Egito gonçalves
Ed. Campo das letras - 2006
ENTRE MIM E A MINHA MORTE HÁ AINDA UM COPO DE CREPÚSCULO
Prefácio: Manuel António Pina (*)


José Egito de Oliveira Gonçalves (Matosinhos, 8 de Abril de 1920 — Porto, 29 de Janeiro de 2001), mais conhecido por Egito Gonçalves, foi um poeta, editor e tradutor.


Publicou os primeiros livros na década de 1950. Teve como atividade profissional a administração de uma editora.

A sua intensa atividade de divulgação cultural e literária concretizou-se, a partir dos anos 50, na fundação e/ou direção de diversas revistas literárias, como A Serpente (1951), Árvore (1952-54), Notícias do Bloqueio (1957-61), Plano (1965-68, publicada pelo Cineclube do Porto) e Limiar. Em 1977 foi-lhe atribuído o Prémio de Tradução Calouste Gulbenkian, da Academia das Ciências de Lisboa pela seleção de Poemas da Resistência Chilena e, em 1985, recebeu o Prémio Internacional  Nicola Vaptzarov, da União de Escritores Búlgaros.
Em  1995 obteve o Prémio de Poesia do Pen Clube, o Prémio Eça de Queirós e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o  livro  E No Entanto Move-se. A sua obra encontra-se traduzida em francês, polaco, búlgaro, inglês, turco, romeno, catalão e castelhano.
Faleceu em 2001, e o seu último livro, Entre Mim e a Minha Morte Há Ainda um Copo de Crepúsculo (*), foi editado cinco anos depois.
(texto elaborado pelos serviços de apoio ao grupo de poetas de Alcanena, Biblioteca Municipal; autor a ser  estudado no próximo encontro deste grupo, em 31 de março corrente, sob a coordenação do dr. Óscar Martins, Diretor daquela biblioteca)

nota:
(*) O Prefácio de Manuel António Pina, é um hino à amizade, ao culto do mérito das pessoas como tal, em primeiro lugar, logo a seguir, ao seu mérito intelectual e literário.
Gostei, sobremaneira, desta parte desse seu "Escrito de memória":
...
"Depois de Egito, conheci muitos outros poetas (e muitos deles dispensava bem tê-los conhecido...). Hoje orgulho-me, ou nem por isso, de me dar com raros poetas. Aos poucos, comecei a estar-me nas tintas para os poetas. Hoje não me dou com poetas, dou-me com algumas pessoas que acontece serem poetas, dando-me com as pessoas que são, e não com os poetas que também sejam;  esta não é decerto uma pequena diferença."
...
-
AO -  continuo a tentar aplicar o novo acordo ortográfico.
@as-nunes   

2012/03/11

Subjetividade e objetividade na linha do pêndulo


TARDE


Um pássaro de luz brinca nos teus olhos
Adormecidos sobre a relva
Enquanto para além do crivo da folhagem
Pequenos sons arranham o silêncio.


Sobre a base da nora ferrugenta
Ouço a meu lado o escorrer do rio.


O vento desliza ao de leve sobre o trigo...
E tudo isto seria uma bucólica
Perfeita tarde de domingo
Se não me viesse a mágica sensação
De que o rio era sangue e eu te perdera.


Egito Gonçalves
Antologia Poética 1950-1990
O Pêndulo Afectivo


(poeta em estudo este mês, pelo Grupo de Poetas de Alcanena na
Biblioteca Municipal)