2011/01/20

Hortas urbanas, biodiversidade e desenvolvimento económico

Nas últimas décadas a preocupação fundamental das grandes decisões governamentais a nível global têm-se prendido com o desenvolvimento económico a qualquer custo.
Que o desenvolvimento económico é condição imprescindível à qualidade da vida do homem, que sem economia forte não há desenvolvimento - invoca-se.
Não podemos contestar tal concepção, mas podemos e devemos travar a velocidade do desenvolvimento económico a qualquer preço em nome duma ideia muito mais importante para o Homem e o próprio Planeta em que ele vive e de cuja sustentabilidade depende a própria vida: a biodiversidade.
Corre pelas chamadas “redes sociais” um movimento “pela criação de hortas urbanas e biodiversidade nos espaços verdes das grandes cidades”. Eu acrescentaria, pensemos em todas as urbes e não só nas grandes cidades. Pensemos também nas terras em pousio pela migração maciça das populações, para os centros urbanos em busca da ilusão de melhores condições de vida.
Actualmente, assistimos à decepção dos novos habitantes das urbes, particularmente aqueles que vêm de zonas mais ou menos interiores e até de áreas limítrofes. É que estão a ser confrontados com uma qualidade de vida muito deficitária, em múltiplos aspectos. Preços incomportáveis dos combustíveis para usar no transporte privado, os próprios transportes ditos públicos cada vez mais caros, engarrafamentos brutais com o aumento subsequente do tempo ocupado em transportes, salários muito baixos para fazer face ao custo de vida, falta de tempo livre.

E a alimentação, o que é que andamos a comer, com estas pressas todas e a necessidade de gerir orçamentos familiares baixíssimos? E deficitários, feitas as contas.

É esta a vida que queremos viver, de facto?

Dada a actual conjuntura económica e social mundial, parece-me evidente que temos que encontrar todas as alternativas possíveis e imaginárias para procurarmos o equilíbrio dos nossos orçamentos familiares e da própria Terra.
Sou incondicionalmente a favor dum melhor aproveitamento das terras de cultivo e que estão votadas ao abandono. E ao aproveitamento dos próprios jardins que, alguns de nós, possam ter à volta das suas habitações. E também a favor da criação de talhões de terreno comunitários para horta.


Nesta perspectiva, dou o meu apoio a esta iniciativa (espero bem que não só virtual) e que seja posta, desde já em prática, por cada um de nós.
Pelo que a mim e à minha família diz respeito, já estamos em fase de substituição de parte do relvado do jardim. Até porque com a relva se gasta demasiada água e pouco ou nada se contribui para a biodiversidade de que o nosso Planeta tanto carece. 
Em sua substituição, estamos a plantar couves, alfaces, plantas aromáticas e medicinais e a semear feijão verde, cenouras, alho, nabiças, nabos, o que a terra possa produzir e ajude na alimentação. E não esquecendo – muito importante – a reciclagem de todos os resíduos biológicos da cozinha, do jardim e da própria horta, bem como o aproveitamento das águas das chuvas.
Ao mesmo tempo, já começámos a dar preferência às plantas e flores autóctones no remanescente do terreno ajardinado. Sem esquecer as árvores de fruto que se possam plantar, como laranjeiras, limoeiros, pereiras, cerejeiras, macieiras, etc.
Aproveitem-se todos os bocadinhos de terra de cultivo (alguns jardins e espaços verdes, inclusivé) para melhorarmos a qualidade de vida das nossas cidades e não só, que há por esse Portugal fora, muita terra abandonada!...

E que não haja “vergonha” de agarrar numa enxada, numa pá, num ancinho, pôr os pés na terra e usufruir, para além de tudo o mais, do bem que é o contacto com a Natureza!...
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(Estive em rádio - Rádio Batalha - a conversar sobre este tema, com o meu amigo e realizador do programa "conversas e ideias", Soares Duarte. Na 5ª feira passada, à tarde. Na rubrica "destaque", quem diria, nestes tempos de campanha para as Presidenciais. Eu, que sou dos que pensam que todos devemos participar com força cívica nos momentos importantes para o nosso país!... 
Estou cansado de ver o povo a não ser mais e melhor juiz das acções concretas dos nossos dirigentes políticos, a branquear factos que deviam ser esclarecidos, para não nos virmos a sentir enganados no futuro).


A composição ao lado é um fragmento do que foi publicado na "Ilustração Portuguesa", um nº de 1916, que retirei do blogue colipoleiria
É certo que nessa época vivíamos essencialmente da Agricultura, a verdade, porém, é que com a nossa entrada na Comunidade Europeia, os Governos Portugueses praticamente foram empurrados a tudo fazer no sentido da desvalorização/menorização da actividade agrícola. Os efeitos perversos estão à vista. Consumimos mais de metade de produtos alimentares importados de outros países Europeus porque nos convenceram que a nossa agricultura não era necessária para coisa nenhuma, que a Europa produzia tudo em abundância, qualidade e preço. 
É o que se está a ver!...

5 comentários:

Alda M. Maia disse...

Tantos produtos importados, tantos terrenos ao abandono, quando poderíamos atenuar esse grande desequilíbrio e enriquecer a nossa agricultura. Neste campo, quanta pobreza de iniciativas e encorajamentos!

Tem toda a razão, António.

Quanto a “ter vergonha” de agarrar numa enxada, dar-se-ia precisamente o contrário. É um esforço útil, divertido e salutar. E o António pode testemunhá-lo.

Um grande abraço e um beijinho à Zaida.
Alda

RC disse...

É verdade!Quem haveria de dizer que hoje, em pleno séc.XXI, com tudo e mais alguma coisa (aparentemente), as pessoas estivessem novamente voltadas para o cultivo da terra?!... A história tem quase sempre razão.

Adriana Roos disse...

Ah Antonio, que prazer te ler!
Eu ca ando tambem fazendo a minha horta em casa. Não tenho terreno, estou a plantar tomates em floreiras, e que delícia come-los!
Na escola tambem vamos começar uma horta este ano.
Retomar, pois em anos anteriores la ja tiveram uma.
E que delicia é mexer na terra, pegar na enxada, plantar, ver crescer e colher!


Abraços amigo

Ate breve!

Anónimo disse...

Já no tempo de Cristo era da terra que tiravam o pão e o vinho. No tempo dos meus avós dizia-se que o País era atrasado mas o valor família era mais importante e conseguiam ter muitos filhos e sustenta-los, e agora temos muitos bens materiais e perdemos o valor família e nem conseguimos sustentar + de 1 ou 2. A terra sempre foi o sustento do pobre e agora as pessoas de meia-idade e sem estudos não podem ganhar umas jornas e ganhar uns trocados porque não dá a agricultura. Todos querem ser bem vestidos e senhores pois eu quando tinha 14 ANOS já trabalhava na terra, e agora com 16 se não gostarem de estudar terem que lá andarem ou andam a fazer mal pelas ruas e não estão para aprender a sujar as mãos. Gostava de ter um País mais atrasado, mas uma sociedade mais feliz, humilde, que se auto-ajudavam-se, todas as desgraças é para darem valor as pequenas coisas que existem

Rosa dos Ventos disse...

Este ano plantei alfaces, tomate e morangos em vasos!
Embora tenha terrenos de cultivo ficam um pouco longe mas sempre dão para umas batatas, cebolas e courgettes... :-))